Monsenhor Sequeri: «um hino é a síntese da fé que anima um Jubileu»

17 outubro 2023

Monsenhor Pierangelo Sequeri, teólogo e musicólogo, compôs o texto do hino do Jubileu de 2025. "Um hino é sempre uma síntese da fé que anima um Jubileu e, cada vez que é tocado ou cantado pelos peregrinos, renova a emoção e conserva a memória", explicou o autor, contando como nascem os textos que serão tocados e cantados por milhões de peregrinos. Até à data, o hino foi também traduzido para inglês e francês.

 

Monsenhor, como é que se pensa o texto de um hino jubilar e que elementos se devem ter em conta na sua redação?

«Cada hino é pensado no clima do Jubileu a que está ligado, inspirando-se na mensagem do Papa que promove o seu horizonte. O tema do Jubileu de 2025 é "Peregrinos de Esperança" e, por isso, o hino é escrito a partir desta imagem. Depois, as palavras são definidas a partir da nossa língua materna, a língua bíblica, tão rica em imagens fortes, tão capaz de chegar a todos, mesmo àqueles que não estão familiarizados com a linguagem eclesiástica. A terceira coisa em que se pensa quando se escreve é no músico, que precisa de uma métrica plausível para ele. É preciso ter um certo conhecimento musical para ir ao encontro do músico, que deve encontrar a melhor maneira de musicar um texto escrito».

 

Que passagens da Sagrada Escritura o inspiraram e que temas em particular?

«Certamente, para a composição desta letra, a imagem de partida foi aquela cena maravilhosa do livro do profeta Isaías com a procissão dos que foram libertados do exílio e que vão ao encontro de Deus, porque encontraram o caminho de casa. Há esta imagem terna dos pais que seguram as suas filhas nos braços, que me inspirou muito. Os homens são "peregrinos de Esperança" que têm esta certeza luminosa de encontrar o caminho, guiados pelo Espírito e pelo olhar terno de Deus, o mesmo olhar com que Ele observa os pais que trazem nos braços os seus filhos. Depois quis introduzir alguns elementos da profissão de fé, porque o Jubileu é uma profissão de fé. As estrofes, de facto, são profundamente trinitárias, cheias de metáforas da Bíblia. Quando se lê "Chama viva de esperança", toda a gente sabe que a "chama" é o Espírito, toda a gente se lembra do Pentecostes, e o Jubileu recorda precisamente esta ideia. A ideia de uma Igreja que se põe de novo a caminho, que sai de todas as prisões em que se meteu para se abrir à humanidade. Há ainda a expressão "seio eterno de vida infinita", que é uma maneira rigorosa de designar o Pai e o Filho juntos. Em suma, pareceu-me que as metáforas vindas da Bíblia conseguissem realmente chegar a um vasto público que se sente encorajado pelo tema da Trindade».

 

O que significa para si o lema "Peregrinos de Esperança"?

«O lema sugere o próprio conceito de caminho, e a palavra "esperança" sublinha uma travessia que é acompanhada de muitos sinais, mas que ainda não chegou ao seu destino. As duas imagens deviam ser equilibradas e, no texto, procurei traduzir esta dupla ideia: a peregrinação da vida e o Corpo ressuscitado do Senhor que chega para consolar os seus discípulos, para os apoiar mesmo para além dos obstáculos que se atravessam. Toda a melancolia, toda a tristeza, que podem tornar a viagem mais pesada, são aqui aliviadas pelo vento do Espírito, porque Deus é a meta e o apoio na viagem. O nosso testemunho é a alegria. A alegria do caminho faz com que todos percebam o que significa "dar razão da nossa esperança", como diz a Carta de Pedro».

 

Qual é a missão de um hino, e da música sacra em geral, num Jubileu?

«Por um lado, um hino é uma verdadeira síntese da fé que anima um Jubileu. O facto de essa se poder encontrar num cântico que envolve emocionalmente todos, enquanto renovam a sua profissão de fé sob a forma de um texto fixo, é a primeira função da música sacra num Ano Santo. Ela representa a síntese vibrante da fé que anima o acontecimento jubilar. Por outro lado, a função de um hino é preservar a sua memória, não deixar que esta se dissipe no tempo. De facto, um cântico pode continuar a ser usado, pode renovar a emoção, o encanto, o espírito e a esperança que animaram aquele Jubileu e tornar-se parte da história do nosso caminho».

 

A última estrofe é um mandato. O que é que queria transmitir com estas palavras incisivas?

«O que eu queria exprimir é que temos uma pedra angular que sustenta este nosso caminho na esperança. É a pedra do Filho que se fez Homem, é o que permite a milhões de pessoas, mesmo que não pertençam à Igreja visível, mesmo que não tenham os laços que nós temos com o Senhor, encontrar o caminho. A nossa mediação é importante para que o testemunho deste acontecimento extraordinário que é a Encarnação permaneça na história. Mas quem encontra o caminho não tem necessariamente de nos encontrar, quem encontra o caminho do Senhor não faz necessariamente parte da comunidade dos discípulos que têm a tarefa de dar testemunho. O Senhor veio para isso. O desejo de que as pessoas encontrem o caminho, e não apenas nós, pareceu-me uma imagem interessante para este tempo de graça que nos convida a abrirmo-nos ao mundo e a não nos fecharmos nas nossas próprias trincheiras».