D. Rino Fisichella na inauguração da exposição La Crocifissione Bianca di Marc Chagal D. Rino Fisichella na inauguração da exposição La Crocifissione Bianca di Marc Chagal

«Jubileu è cultura», de 27 de novembro a 27 de janeiro de 2025 a Crucifixão Branca de Marc Chagall estará exposta no Palazzo Cipolla

O Dicastério para a Evangelização promoveu, por ocasião do início do Jubileu Ordinário 2025, a quarta Exposição de Excelência do Programa Cultural “Jubileu é Cultura” intitulada “Chagall em Roma”, com a exposição da obra-prima de Marc Chagall, A Crucificação Branca. A obra pode ser visitada no Palazzo Cipolla, Via del Corso 320, de 27 de novembro de 2024 a 27 de janeiro de 2025. O acesso é livre e gratuito,  todos os dias, das 10 às 20 horas.

A obra, criada pelo pintor bielorrusso de origem judaica em 1938, provém do Art Institute de Chicago e é um poderoso símbolo de esperança e de unidade religiosa. A Crucificação Branca, com a sua forte mensagem de defesa da dignidade humana e do diálogo entre culturas, é uma das obras preferidas do Papa Francisco.

A obra-prima de Marc Chagall, símbolo de diálogo entre culturas

A Crucificação Branca é reconhecida pela sua extraordinária capacidade de integrar elementos religiosos e simbólicos numa linguagem visual profundamente evocativa. A sua presença em Roma representa uma oportunidade única para os amantes e estudiosos de arte contemplarem uma obra-prima de tão grande impacto. Marc Chagall, nascido em Lëzna, na Bielorrússia, em 1887 e falecido em 1985, foi um pintor russo naturalizado francês, considerado um dos artistas mais significativos do século XX. Forçado a deixar a sua terra natal, Chagall manteve sempre uma profunda ligação com as suas origens, apesar de saber que não poderia fixar-se aí. A sua obra é famosa pelas pinturas que representam cenários oníricos e fantásticos, expressão de um estilo pessoal que rompe com as correntes artísticas do seu tempo, inspirando-se nas vanguardas e ultrapassando-as

A Crucificação Branca, pintada em 1938, representa um ponto de viragem fundamental para Chagall. Esta obra não só realça a imagem de Cristo como mártir, mas também chama dramaticamente a atenção para a perseguição e o sofrimento do povo judeu na década de 1930. A pintura ilustra o sofrimento tanto dos judeus como de Jesus, retratando conflitos violentos, como o incêndio de sinagogas. No centro, Jesus é representado crucificado, adornado com um xaile de oração (tallit), simbolicamente representado como um judeu. A i revela influências da arte italiana do século XIV e apresenta um valor cromático significativo. As ligações temáticas com a pintura religiosa renascentista, em particular com as obras de Miguel Ângelo, e as referências à Elevação da Cruz de Rembrandt enriquecem o significado da obra. À volta de Jesus, estão representados três patriarcas bíblicos e uma matriarca, vestidos com roupas tradicionais judaicas. De cada lado da cruz, Chagall ilustra a devastação dos pogroms: à esquerda, uma aldeia saqueada obriga os refugiados a fugir de barco, enquanto três figuras barbudas fogem a pé, uma delas segurando a Torah. À direita, uma sinagoga e a arca da Torah estão em chamas, enquanto em baixo, uma mãe conforta o seu filho. Juntamente com Guernica de Pablo Picasso, a Crucificação Branca é uma das mais eloquentes condenações do século XX à guerra e ao ódio, com uma mensagem que ainda hoje é dramaticamente atual.

Cristo crucificado

O Cristo crucificado é um símbolo do judaísmo. Representado com a cabeça virada para a frente, tem o ventre coberto pelo Tallit, o xaile usado pelos homens judeus durante a oração. À volta da cabeça, a tradicional auréola, nesta pintura branca, simboliza a santidade de Cristo. Por cima da cruz, aparece a inscrição latina INRI com a correspondente em hebraico. A escada, encostada à cruz, assume o papel simbólico da união entre o céu e a terra, o homem e Deus. Por fim, o Cristo crucificado é iluminado por um feixe de luz divina branca que brilha sobre a cruz como um holofote de palco.

As cenas de destruição, morte e violência

À volta do Cristo crucificado, há cenas de destruição, morte e violência interligadas entre si. Em cima, três homens e uma mulher flutuam no ar. Estão desesperados: um casal chora, levando as mãos ao rosto, enquanto os outros dois, rezando, pedem que a violência termine o mais depressa possível. À esquerda, um grupo de soldados avança armado, agitando bandeiras vermelhas. Estes soldados simbolizam os homens que participaram nos pogroms, a terrível violência antissemita que afectou os judeus na Rússia entre 1881 e 1921 (e que, após a Segunda Guerra Mundial, continuou a atacar mesmo os sobreviventes do Holocausto).

Casas em chamas

Em estreita relação com a cena representada acima, do grupo de soldados, o artista retrata casas em chamas. Para além do fogo, a destruição é percebida pelos elementos desordenados que aparecem nesta cena e pela representação das casas de pernas para o ar. Além disso, são representadas três vítimas dos pogroms, ajoelhadas e de luto.

O barco com os fugitivos

O artista pintou um barco cheio de refugiados judeus que estão a tentar levantar âncora para se salvarem e atracarem em terra segura. Uma cena que continua a ser muito atual, exprimindo a fuga dos países de origem na esperança de salvarem as suas vidas em partes do mundo não contaminadas pela guerra e pela devastação

Os símbolos da cultura hebraica

Em baixo, à esquerda, em primeiro plano, vêem-se três homens que se afastam carregando alguns objectos. Durante esta violência atroz, a Palavra de Deus deve ser salva. O último da fila, vestido de azul escuro, tem nos braços a Torah, a Lei judaica. Na parte inferior central está a Menorá, o candelabro judaico de 7 braços (embora aqui só se vejam 6) que vela Jesus na cruz. À direita da Crucificação Branca de Chagall está um pergaminho que está a arder, produzindo chamas brancas que chegam até à cruz: são os livros da Sagrada Escritura. Finalmente, no canto superior direito, uma sinagoga a arder, representando todas as sinagogas queimadas na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. No interior deste pormenor, um homem tenta salvar os rolos da Lei judaica do guarda-roupa do edifício, enquanto no topo do edifício se podem ver as duas tábuas dos Dez Mandamentos e a Estrela de David, dois outros símbolos caraterísticos da religião judaica.

O profundo significado espiritual da obra

O profundo significado espiritual da obra oferece ao visitante uma oportunidade de meditação extraordinária, tornando a fruição desta obra-prima não só um momento de excecional valor artístico, mas também uma importante oportunidade de introspeção e reflexão sobre o mistério da cruz, símbolo da esperança de redenção e ressurreição após as atrocidades e da vitória sobre a morte.

Para quem desejar, estará disponível no local o catálogo oficial da exposição.